terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mulher, trabalho e bancos

Na semana em a nossa ContrafCUT entrega aos banqueiros a pauta geral de reivindicações da categoria, o Arte Bancária indica a leitura do artigo a seguir, produzido pela compa Heidiany Katrine, diretora do Seeb-Pa/AP:

As mulheres sempre encontraram dificuldades para se inserirem no mercado de trabalho, talvez seja consequência do sistema patriarcal que dominou e infelizmente ainda domina as esferas de maior poder. Assim como os escravos o trabalho da mulher era visto como indigno, inferior e desvalorizado, por isso sempre foi menos remunerado. Mesmo após o processo de revolução industrial no Brasil, o quadro de desvalorização não modificou. Hoje temos ainda uma desigualdade muito grande no mercado de trabalho, com relação aos negro e as mulheres, refletido na participação, na remuneração, ou na ocupação de cargos de alto nível hierárquico.

Partindo para o setor bancário as mulheres são quase metade da categoria, segundo pesquisa realizada pelo DIEESE, entretanto quando analisamos a remuneração há uma queda de 25% em relação a remuneração dos homens. Quando comparamos os cargos ocupados por mulheres apenas 33,4% estão ocupando postos de gerência. Com relação a mulher negra esse dado se torna gritante, apenas 8% das mulheres que trabalham nos bancos são negras. Aliás quantos negros trabalham com você? Passamos tão despercebidos nos afazeres cotidianos que nem percebemos que praticamos preconceito no nosso trabalho.

Percebemos pelos dados que a participação feminina fica reduzida a um papel secundário ou subordinado, é que o maior nível de escolaridade que é das mulheres não refletiu em maior salário. Isso demostra que as mulheres continuam tendo representação em ocupações com menor nível de remuneração. As mulheres costumam ser sub-representadas em posições de alto nível hierárquico, quantas superintendentes, diretoras e presidentas de bancos são mulheres e quantos negros você conhece ocupando tais cargos? Apenas 5% das bancárias chegam assumir tal posto, além da pequena participação quando assumem tal posição, recebem salários menores para efetuar o mesmo trabalho. Além disso ainda são as que mais sofrem com a violência dos superiores, sendo as principais vítimas do assédio moral e sexual.

Esses dados são apenas um alerta para que possamos refletir, analisar e verificar que necessitamos avançar aquém da moeda social. Adotar medidas que contribuam para paridade tanto das mulheres quanto dos negros, deficientes, homoafetivos, significa dizer dar condições de oportunidades de ascensão profissional no setor bancário, para que as diferenças não sejam vistas como desigualdades.

Precisamos desconstruir estes estereótipos de inferioridade presentes na sociedade, pensar em seres humanos completos capazes de desenvolver razão e emoção, repensar nos espaços de homens, mulheres, negros, deficientes, homoafetivos e principalmente, repensar em que tipo de sociedade queremos. A campanha nacional da nossa categoria é um ótimo espaço pra enfrentar esse debate!

* Heidiany Katrine Moreno é Diretora de Bancos Estaduais do Seeb-PA/AP, cientista social, feminista e Esp. em Cultura Afro- Brasileira
E-mail: heidianykatrineO8@gmail.com / Fone: 91- 8198.4005

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