quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Marcha das Vadias no Diário do Pará


Belém terá sua "Marcha das Vadias"

Mulher nenhuma gosta de ser taxada de vadia. Mas por mais contraditório que possa parecer, um grupo de ativistas paraenses exige respeito assumindo a ofensa como bandeira de luta. A Marcha das Vadias, prevista para acontecer no próximo domingo, em Belém, é a versão brasileira da “Slut Wlak”, parte de um movimento mundial de protesto contra a violência às mulheres. “Nós usamos o termo ‘vadia’ para nos referirmos à marcha como uma forma de protesto. Estamos cansadas de ser rotuladas pelo jeito que nos vestimos ou nos comportamos. Somos donas do nosso corpo. Nós somos vadias porque somos livres”, defende a advogada Rafaela Rodrigues, integrante da comissão organizadora do evento.

A primeira Marcha das Vadias aconteceu no início de abril, no Canadá. Estudantes da universidade de Toronto organizaram um protesto após as declarações de um representante da polícia proferidos em uma palestra sobre segurança no campus. Ele teria sugerido que as mulheres evitassem se vestir como “vadias” para não serem vítimas de estupro.

A indignação extrapolou as paredes do campus universitário, ganhando a internet. Atualmente, configura-se como um grande movimento organizado, com edições nos EUA, Canadá, Austrália, México, Argentina e alguns países da Europa.

No Brasil, a primeira marcha aconteceu no dia 4 de junho, em São Paulo. Logo após, ganhou versões no Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Natal e Brasília.

As edições nacionais foram marcadas pelas palavras de ordem curtas e grossas como “Sou vadia, mas isso não te dá o direto de me estuprar” ou “Minha b..., minha escolha”. As militantes mais radicais arriscaram participar do protesto apenas de lingerie ou até mesmo topless.

“A marcha foi feita para chamar a atenção, para chocar. Vamos manter esse direcionamento em Belém. A sociedade precisa ensinar os homens a não estuprar em vez de insistir que as mulheres se comportem. É essa a mensagem que queremos passar”, vaticina Rafaela.

Mas a mensagem não é bem recebida por todos. A organização relata que vem sofrendo ameaças e assédio moral nas redes e no blog que mantêm para divulgar o evento. Para a passeata, contam com a ajuda da polícia para supervisionar o percurso, que segue do Ver-o-Peso para a Praça da República.

“Ouvimos de tudo: cantadas, pessoas dizendo que merecíamos ser estupradas. Temos receio, mas não vamos recuar. Estamos estudando estratégias para evitar possíveis agressões durante a marcha”, conta a advogada.

PARTICIPE

A organização da marcha espera reunir 1.600 pessoas no domingo. A concentração da 'Marcha das Vadias' acontece na escadinha da Estação das Docas, às 9h. Mais informações no blog da 'Marcha das Vadias' de Belém: mdvbelem.blogspot.com.

Choque de valores para combater a violência

Na avaliação da doutora em ciência política Luzia Miranda Álvares, o choque de valores pode ser positivo para o avanço da causa. “O movimento feminista sempre foi pautado pela ousadia. Não porque nós mulheres fôssemos subversivas, mas porque somos extremamente reprimidas”, explica ela, que integra o Grupo de Estudos e Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulheres e Relações de Gênero da Universidade Federal do Pará (GEPEM), criado em 1993.

“Lembre-se: o machismo oprime pelo silêncio, por isso, no meu entender, a Marcha das Vadias é tão oportuna. As mulheres querem que todas sejam respeitadas. Vadias ou não”, avalia. (Diário do Pará)

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